CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: setembro 2007

terça-feira

Nanny



Gotan Project – Santa Maria (Del Buen Ayre)

Nanny

a noite
passada
te vi
ousada
tentada
dançavas
colada
sorrias
sonhavas
tangavas
prazias
sem fim
nos braços
de outro
fugindo de mim.

teus olhos
fulgentes
brilhavam
contentes
sorriam
mentiam
oh céus!
cruzavam
com outros não meus!


Nanny!
a noite
passada
folgavas
fruías
bailavas
e rias
sem pena
de mim.
quisera
Nanny
não foras assim.


teus lábios
carnudos
sorriam
tão mudos
teus braços
desnudos
d’ abraços
teúdos
fugiram
de mim.
prouvera
Nanny
não foras assim.


oh Deus!
meus olhos
banhados
de lágrimas
fugiram
irados
dos teus.
ciúme
senti.
lograste
Nanny
fugir
de mim?
assume
Nanny
porqu'és tu assim?


Nanny
a noite
passada
te vi.
transavas
com outro
sorrias
tangavas
cantavas
curtias
beijavas
fugindo
p’ra sempre
de mim!


quarta-feira


A poesia não quer adeptos, quer amantes.
Federico García Lorca





Ouvir estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdestes o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac (Brasil, 1865-1918)

terça-feira

Ao luar



"Homem e Mulher contemplando a Lua"
Casper David Friedrich

Ao luar

Quando à noite o teu rosto sob a lua
doce fulgura sob as buganvílias
e te ouço dizer “serei sempre tua”
tanto nos sonhos como nas vigílias,
hauro o teu olor que a brisa acentua
no doce aroma das frondosas tílias.
Dos teus lábios, entanto, é tanta a sede,
que me enchem de saudade que não cede.

O desejo contente e descontente
em que sempre te tenho sem te ter
é lava que em mim lavra tão ardente
que não sei se é dor ou se é prazer
ter, não tendo, o teu corpo de nubente,
no fogo que me queima sem se ver.

[Este amor, que extravasa o universo,
é paixão que não cabe em simples verso.]

domingo

Dafne



"Dafne" - Antonio Corredera

Dafne

Quero haurir dos teus lábios os perfumes
Dos lírios e calmar em ti anelos
Do fogo que pôs Dafne em teus cabelos,
O mesmo que nos guinda até aos cumes.

Nos nimbos dos teus seios, ternos numes
Tornam em doces beijos meus apelos
Dos sonhos que mataram pesadelos
Quando Morfeu ouviu os meus queixumes.

Desejo amar no monte as ternas rosas
E envolver-me nas chamas deleitosas
De lúbricas paixões desenfreadas.

Nessas horas felizes, meu amor,
És o sol que me guia, redentor,
Num anúncio de rubras alvoradas.

quinta-feira

carpe diem




carpe diem

desfruta o dia
navega-o
dobra-o
acende-o
respira-o
despe-o
de nuvens e neblinas
e molda-o
à tua vontade
na curva do teu colo

quebra-lhe as incertezas
as raízes de tons cinzentos
reinventa-o
no ritmo vigoroso
dos violinos de Vivaldi
no voo das aves
na nudez da brisa azul
na luz marítima da água
na alvura dos nenúfares
no oiro dos girassóis
no fogo das laranjas

e um morango de sol
brilhará para ti
na superfície polida
da tua manhã aberta e azulina
. .