CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: outubro 2007

segunda-feira






Arcangelo Corelli (Italia, 1653-1713), "12 Sonatas para violino,
violoncelo e clavicórdio", Fragmento "nº 12, La Follia".

o meu diospireiro

hoje, soube de um frágil diospireiro
que deixou amarelecer as folhas
muito antes do tempo caduco que se abeira.
e segredei às sua esmaecidas brácteas
– algumas rastejando secas pelo chão –
que nos encontramos na morna quietude de setembro
e que ainda está longe o vento frio
que soprará das esquinas agudas e invernais do tempo.

e pedi-lhe que o confirmasse
no olor salubre e quente
que emanava das glaucas folhas da vizinha figueira
que embora caducas como as suas
se mantinham unidas aos ramos
como pecioladas bandeiras.

apesar do estridular persistente duma cigarra
que teimava em certificar
que a nosso lado corre o estio,
pareceu-me ouvir um breve cicio
vindo do meu diospireiro.

« - tenho a dizer-te que sou a árvore
do fruto do divino fogo
e que perco as folhas
na antevisão das geadas
e do sopro gélido dos ventos dominantes
e agrestes que se aproximam
e me derrubariam se continuasse vestido.
dispo-me para dormir mais sossegado
por entre os acolhedores lençóis da terra.

acordarei na primavera
e darei de novo
amplas folhas verdejantes,
belas flores campanuladas
e suculentos frutos de fogo
para tua alegria e consolo.
lembrar-te-ás, então,
que as minhas folhas não morrem
e que simplesmente emigram
para a terra-mãe como as andorinhas»

reguei então o meu diospireiro
na despedida do verão
e sorri para uma caravana
de formigas que azafamadas e impávidas
ao canto e desgoverno da cigarra
transportavam o grão para o seu celeiro de inverno.

entendi bem o recado do meu diospireiro:

antes do fim do outono
terei o cuidado de o proteger
das túrbidas procelas e das geadas,
pois que as árvores,
tais como as andorinhas,
sabem dos caminhos labirínticos do tempo.
só que não têm asas.
. .