CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: setembro 2008

domingo





Pior que as algemas metálicas, é a prisão das palavras.
Pior que a prisão das palavras, a escravidão do silêncio.
Zénite


Franz Schubert,"O canto do cisne", D.957, fragm. "Serenata"

Antes, quando ali entrava, sentia que um doce calor invadia suavemente o seu corpo, desconhecendo, nesses momentos de serenidade, onde pernoitava a solidão. E muitas vezes as palavras brincavam consigo na frescura das sílabas, e cintilavam e fugiam e voltavam a aparecer sob os seus dedos. Agora, um estranho e penetrante algor perpassa o seu coração e invade todo o seu corpo, pairando, hesitante, sobre as suas mãos trémulas, num prenúncio de absurda invernia, quando é certo que lá fora a chuva há muito cessou, o céu azul voltou, e as amarras de Eolo cingem vigorosamente o bóreas, transformando-o no brando e perfumado zéfiro que agita suavemente as folhas das frondosas tílias do largo fronteiriço...


(Se não fosse o amor que a tudo incita
Leandro não morreria afogado no Helesponto
nem Hero sucumbiria nas mesmas águas
morta pela mágoa lancinante da sua desdita.)
Peregrino, "O Templo das Palavras Esquecidas”

sexta-feira

Longe demais!




Longe demais!

Eu, nómada errante,
que só tenho à minha frente
o abrasante deserto
ondulante, sufocante,
com o meu coração palpitante
sob o Sol rutilante, ofuscante,
procuro-te…
Mas não te encontro!

Eu, solitário navegante,
sulco o serpenteante rio
de montante a jusante
e, qual almirante mareante,
procuro-te no infindo mar
bramante, espumante,
mas porque estás distante
qual fulgurante diamante…
Não te encontro!

Eu, que no crepúsculo agonizante
te procuro sob a procela
troante, retumbante,
e demando o teu semblante na noite apavorante,
na ausência do bruxuleante círio,
da cintilante estrela
e do luar minguante, cativante,
eu que quero contemplar-te
nos incêndios da brilhante aurora
levante, flamejante…
Não te encontro!

Eu, que intento descortinar-te
na gigante cidade
trepidante, trasbordante,
e na pacata aldeia
branquejante, fumegante,
que clamo por ti ao vento uivante,
e ele, decepcionante,
nada me diz e, ululante,
passa adiante…
Não te encontro!

Eu, qual cavaleiro andante,
que te procuro na dedálea
rota nevada de Kathmandu,
alvejante, serpejante,
na frondejante floresta amazónica
e no fascinante tando africano
verdejante, vicejante…
Não te encontro!

Eu, que sobre o teu paradeiro
consulto a pujante Primavera
deslumbrante, refrescante,
que interrogo o escaldante Verão
secante, causticante,
que te procuro no silêncio vacilante
do hesitante Outono
e pergunto por ti à folha declinante,
voante, dançante,
e questiono o trovejante Inverno
murmurante, cortante…
Não te encontro!

Eu, que inquiro a itinerante abelha
edificante, fabricante,
e interrogo a ambulante borboleta
irisante, mutante,
que pergunto por ti à estridulante cigarra
cantante, sonante,
e à emigrante andorinha
rasante, circulante…
Não te encontro!

Eu, que indago a tua morada
à viajante Lua
amante, inebriante,
e ao possante Júpiter
triunfante, iluminante,
que interpelo a irradiante Sírio
e o dardejante Sol
flamejante, coruscante…
E todos me respondem
com enigmáticas parábolas, alegorias e símiles
que não consigo decifrar.
Contra meu talante...
Não te encontro!

Impõem-se-me assim
o cepticismo de Pirron de Élis,
o estoicismo de Zenão de Cítio,
a ascese contemplativa de Platão,
mas ainda, e sempre, a esperança
do lume vivo dos teus olhos.
. .