CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: outubro 2008

quinta-feira


Tomaso Albinoni - Sonata em sol menor - "Adagio" (1740)




da inutilidade da minha “poesia”


quando os meus pés doridos
dos áridos caminhos da vida agreste
se quedarem na necrópole sagrada
a dois metros da neve
que imaculada
cai sobre o cipreste
as aves da noite silenciarão
e sob o luar de mármore
os lamentos ouvirão
daquele que não foi
daquele que não fez
daquele que morreu
antes de ter nascido
se é que nasceu alguma vez.





Pássaros cruéis










Pássaros cruéis

Um fluxo de dólares e de sangue
jorrando sobre a Mesopotâmia.
Um sino de fogo embutido nos umbrais do deserto.
E a fúria insana.
O crude golfando sobre o equinócio
num concerto de morte.

E há falcões.
Falcões que dançam e pairam sobre os soluços
do amanhecer sangrento.
Talvez abutres.

Fogo e cinzas calcinadas,
estilhaços, gritos, pedaços de argila.
A morte galopando sobre as cidades.
Não há palavras. Apenas armas.

Breve, um talismã tomba sobre o asfalto.
Um turbante esvoaça, branco,
sob o luar negro de fumo.
Calou-se a flauta de vento
que flébil gemia sob a tamareira.
Eternos e piedosos, a Lua e Vénus
velando a morte.

Cessaram os sorrisos no país de Aladino.
Sangue e lágrimas, apenas.
Um sem-fim de covas e cemitérios e morte.
A face lúgubre e sombria do fim.

Onde as crianças acordadas
no seu sonho peregrino?
Onde o berço da civilização? Onde a justiça?
Onde Babilónia, a dos Jardins Suspensos?
Onde as palavras que brotaram da argila?
Onde a água de sonho do Tigre?
Onde os pássaros voando na brisa levantina?
Onde as chispas de oiro e prata
das águas de espelhos do Eufrates
ora tintas de sangue?
Onde a mulher que embalava no berço
o seu menino de olhos de mel?
Onde o menino?
Onde a Babel?

A coberto dos ventos de opróbrio e azeviche,
nabucodonosores de barro tombam
-outros elevam-se! -
no resvalo da pedra de Sísifo.
Será tarde, muito tarde,
quando trepidantes de náusea
os corcéis de fogo do Apocalipse
migrarem para o frio
na companhia dos pássaros cruéis.

O verbo distorcido aguarda, receoso,
a frieza invencível da razão clara.
Viscoso e mole o mutismo dos homens
flanqueia a gelatina estática do caos.
Fenece, a pouco e pouco, o país de Gilgamesh.

sábado





Dióspiro
os teus lábios.


O fulgor
do sangue divino
no fogo
do fruto de Deus.


Um hino
uma dádiva
dos céus.


Na cor
no perfume
no gosto
na beleza absoluta
do teu rosto.


. .