CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO

sexta-feira


Antonin Dvorak, Serenata para cordas,
opus 22 (1875), fragm. “Moderato”





sílabas de lume

por tuas mãos se desfaz a neblina.
mas diria que não é névoa, chuva ou zimbro
o que escorre das arestas molhadas
e cavernosas do gélido crepúsculo.

são sílabas de fogo e sombras. sombras cálidas,
diáfanas, perfumadas sob o silêncio do entardecer.
um silêncio sem margens que se dilata
em combustão de lume brando
por entre as flores rubras do topo das colinas
e o balanço curvilíneo dos flancos.

há uma sede crepuscular, restos de luz
e um sopro de essências nocturnas
que cortam as sombras das árvores
e a superfície lisa das coisas.

procuro-te assim no crepúsculo pando
num refúgio de sombras e de raizes.

ainda antes que o lençol da noite se insinue
soletro ponto por ponto as sendas do regresso.
nelas me desoriento e distancio.

entanto, já muito perto do vértice do caminho,
no ponto exacto em que indiferentes
as pedras esmagam o vazio,
o zéfiro traz-me um perfume intenso
a chuva doce e a maçãs frescas.

e é nesse preciso e isolado ponto,
em que só o aroma da tua sombra me vale,
que me abrigo, aquecido pelo lume que cresce
da fragrância anil que orla o teu corpo de deusa.

nessa sombra me adentro, aqueço e permaneço.
eu, que sou incêndio e cinza por cumprir.

5 Comments:

Blogger Menina Marota said...

"...entanto, já muito perto do vértice do caminho,
o zéfiro traz-me um perfume intenso
a chuva e a maçãs frescas."

e na brisa da neblina, o poema acontece!

Um abraço e bom fim de semana ;)

5:13 da tarde, fevereiro 23, 2008  
Anonymous Anónimo said...


Vou acender o fogão da sala. Tenho a lenha acumulada à minha frente. Tenho o passado acumulado no meu olvido. Vou acender o fogão, acender a evocação.
O silêncio na casa.
O silêncio lá fora. Imagens ternas do que passou. Minha comoção oblíqua. Reacender à vida o que morreu. Vou acender o fogão.


Vergílio Ferreira


Eu também.
Só os poetas o notarão.

10:53 da manhã, março 05, 2008  
Anonymous Anónimo said...

E agora vou sentar-me um pouco na sala enquanto te escrevo aqui no quarto. E ouço na rádio um concerto para oboé que é bom ouvir aqui, enquanto estou lá dentro.

Vergílio Ferreira

Sim, só os poetas.
:)

11:44 da manhã, março 07, 2008  
Anonymous Anónimo said...

:)

os poetas, frágeis páginas de canduras oníricas


bom dia guardião da palavra

10:28 da manhã, março 09, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Ah, os poetas, esses frágeis e insustentáveis nubívagos voando sobre as planícies e os altos cumes do nada!

:)

boa-tarde, sábia arquitecta do verbo!

2:46 da tarde, março 09, 2008  

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