Na morte de Lorca
Alberto Iglesias e outros, música do filme ‘Hable con Ella’, de Pedro Almodóvar
Eram cinco da madrugada
e cinco as negras cruzes
que cinco algozes agitavam
frente a ti Federico García
Poeta de Espanha
e do Mundo.
Eram cinco as espingardas
e cinco os rosários
que os judas na manhã fria
em nome das cinco chagas
de um Cristo distraído e ausente
em troca de perdão
do tenebroso crime recitavam.
Oh, horror dos horrores!
Como os teus terríficos
sonhos recentemente vividos
de damas de atros véus
e negros crucifixos
se iam cumprir nos idos
de um Agosto triste!
Nas faldas da “sierra de Alfaguara”
junto à “Fuente de las Lágrimas”
tendo por fundo a bela Granada
que em “Elegía humilde” cantaste,
cinco balas cegas
disparadas pelas negras garras
do fascismo trespassam o teu coração.
Eram cinco da madrugada.
Os tiros vêm de trás.
Os assassinos não têm coragem
de ver o rosto puro dum inocente,
e morres de pé
virado para a tua querida Granada.
O teu corpo baqueia
e o teu rosto beija
a sacra terra andaluza
que comunga do teu sangue
enquanto a ténue brisa afaga
os teus cabelos de ébano.
Às cinco da madrugada.
São cinco as musas que te choram
neste amargo amanhecer
em que a deusa Aurora
juntou as suas rubras lágrimas
à terra de sangue
de uma colina de Granada
depois das oliveiras da noite
em círios de azeite te chorarem.
Que noite escura e implacável
em que a Lua amada mas ausente
cobriu o seu belo rosto
de luto e seda
e te chorou já de dia
quando te adivinhou
sob o manto da terra fria!
Quando o rouxinol elevou
em tua honra a sua litúrgica balada
as aves da alvorada guardaram o silêncio
amargo desse madrugada triste de Agosto
e os céus cobriram de aljôfares
o teu corpo exangue
numa vala comum de Alfaguara.
Eram cinco da madrugada.
_______________________________
[Tu que passas pelo sinuoso caminho
que liga Viznar a Alfacar,
pára junto da “Fuente de las Lágrimas”
e descobre-te!
Em marmórea campa
de vala comum,
onde perto viçam o jasmim e o nardo,
jaz o autor das 'Bodas de sangre'
Federico García Lorca,
Poeta e dramaturgo
de Vanguarda e do Mundo
e da Espanha
que o assassinou
e que com ele morreu
nos idos dum Agosto triste.
às cinco da madrugada.]
8 Comments:
e também aqui os muros de deus
também um estrondo
seguido do seu eco
e também o silêncio a gritar
in.finita.mente
...
beijO.zéniTe
Cómo me gusta Federico García Lorca!! cómo me gusta su poesía llena de música. A él le gustaba los juegos de palabras. Tu visita enriquece bellamente mi post, enriquece mi conocimiento sobre esto y lo otro.
Lindo pasar por aquí.
tenho estado aqui a trabalhar com a música do teu blog por fundo. Bem escolhida :)
Tens aqui uma casa bem simpática.
Obrigada pela tua visita, volta sempre ... mesmo quando não tenha doxinhos para oferecer ;)
Beijo
Amigo.
La casualidad tiene a veces estas normas. Tú escribías de Lorca y yo, sin saberlo lo hacía de Manolete.
No recuerdo si escribía a las cinco de la tarde o tal vez era ya noche cerrada.
Lo cierto es que esos versos siempre han supuesto para mi una carga de fortísima emociòn porque se confabulan, a esa hora, -las cinco de la tarde- (ahora, con el cambio horario, las corridas son a las siete) en el ruedo, tres protagonistas de excepción: el sol, el hombre y el toro. Y la sangre, que hace el número cuatro y es en la que es espectador clava la mirada.
Nada hay más bello y doloroso que ver al torero hincar la banderillas en el costado del animal. No hay mayor humillación que la que siente el toro en medio de la plaza, cuando su orín resbala, de pánico, por sus patas hasta el suelo. Dos líquidos y dos símbolos unidos por el orgullo y la cobardía.
No sé por qué escribo todo esto. Tal vez, porque, a las siete de la tarde (cinco, hora solar), las plazas de España se tiñen de rojo y gualda.
Con fecha o sin ella, tu post es magnífico y me ha llevado a mi mundo de niña que no me abandona, por suerte.
Nada como los acordes, al unísono o intermitentes del violín y la guitarra. Nada como esta bella música que nos dejas.
Hoy es protagonista el toro en España. En Pamplona se grita, se corre y, si hay que morir, pues se muere.
No lo podemos remediar.
Soneto a los Hervos
Baja lúcido el sol sobre los montíolos,
Y ya la luz sidárvia de los sidócitos,
Elíptica, tremola entre los gladíolos,
Traspasando las vidrieras de los esmócitos.
(me cuesta entender, hay varias palabras que no conozco, "los Hervos" (y no sirve tu traductor)
parece hermoso.
Saludos.
Un Dress, Galatea, Cainha e Anatema (sigo a ordem dos comentários), o meu obrigado pelas vossas palavras e amabilidade.
Galatea, o post de Sábado - neste blog, intitulado
"Abalarei os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca..." (Ageu 2:6-21) responde à tua questão.
Beijos.
"Mas que vou eu dizer da Poesia? Que te hei-de dizer de essas nuvens e de esse céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada acerca da Poesia. Isso é para os críticos e professores. Mas nem tu nem eu, nem nenhum poeta, sabe o que é a Poesia.
Aqui tens: repara. Eu tenho o fogo nas minhas mãos. Entendo-o e trabalho com ele perfeitamente, mas não posso falar dele sem literatura. Compreendo todas as poéticas; poderia falar delas se não mudasse de opinião de cinco em cinco minutos. Não sei. Pode ser que algum dia goste muitíssimo da má poesia, como gosto (como gostamos) hoje com loucura da má música. Incendiarei à noite o Partenon para começar a ergue-lo, de novo, pela manhã, sem nunca o terminar.
Tenho falado nas minhas conferências acerca da Poesia, mas do que não posso falar é da minha poesia. E não é porque seja um inconsciente daquilo que faço. Pelo contrário, se é verdade que sou poeta pela graça de Deus - ou do demónio -, também é verdade que o sou pela graça da técnica e do esforço, e por saber perfeitamente o que é um poema."
(Lorca e a sua Poética - "De Viva Voz a Gerardo Diego")
Um abraço e boa semana ;)
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