Antonin Dvorak, Serenata para cordas,
opus 22 (1875), fragm. “Moderato”
opus 22 (1875), fragm. “Moderato”
sílabas de lume
por tuas mãos se desfaz a neblina.
mas diria que não é névoa, chuva ou zimbro
o que escorre das arestas molhadas
e cavernosas do gélido crepúsculo.
são sílabas de fogo e sombras. sombras cálidas,
diáfanas, perfumadas sob o silêncio do entardecer.
um silêncio sem margens que se dilata
em combustão de lume brando
por entre as flores rubras do topo das colinas
e o balanço curvilíneo dos flancos.
há uma sede crepuscular, restos de luz
e um sopro de essências nocturnas
que cortam as sombras das árvores
e a superfície lisa das coisas.
procuro-te assim no crepúsculo pando
num refúgio de sombras e de raizes.
ainda antes que o lençol da noite se insinue
soletro ponto por ponto as sendas do regresso.
nelas me desoriento e distancio.
entanto, já muito perto do vértice do caminho,
no ponto exacto em que indiferentes
as pedras esmagam o vazio,
o zéfiro traz-me um perfume intenso
a chuva doce e a maçãs frescas.
e é nesse preciso e isolado ponto,
em que só o aroma da tua sombra me vale,
que me abrigo, aquecido pelo lume que cresce
da fragrância anil que orla o teu corpo de deusa.
nessa sombra me adentro, aqueço e permaneço.
eu, que sou incêndio e cinza por cumprir.
mas diria que não é névoa, chuva ou zimbro
o que escorre das arestas molhadas
e cavernosas do gélido crepúsculo.
são sílabas de fogo e sombras. sombras cálidas,
diáfanas, perfumadas sob o silêncio do entardecer.
um silêncio sem margens que se dilata
em combustão de lume brando
por entre as flores rubras do topo das colinas
e o balanço curvilíneo dos flancos.
há uma sede crepuscular, restos de luz
e um sopro de essências nocturnas
que cortam as sombras das árvores
e a superfície lisa das coisas.
procuro-te assim no crepúsculo pando
num refúgio de sombras e de raizes.
ainda antes que o lençol da noite se insinue
soletro ponto por ponto as sendas do regresso.
nelas me desoriento e distancio.
entanto, já muito perto do vértice do caminho,
no ponto exacto em que indiferentes
as pedras esmagam o vazio,
o zéfiro traz-me um perfume intenso
a chuva doce e a maçãs frescas.
e é nesse preciso e isolado ponto,
em que só o aroma da tua sombra me vale,
que me abrigo, aquecido pelo lume que cresce
da fragrância anil que orla o teu corpo de deusa.
nessa sombra me adentro, aqueço e permaneço.
eu, que sou incêndio e cinza por cumprir.
5 Comments:
"...entanto, já muito perto do vértice do caminho,
o zéfiro traz-me um perfume intenso
a chuva e a maçãs frescas."
e na brisa da neblina, o poema acontece!
Um abraço e bom fim de semana ;)
Vou acender o fogão da sala. Tenho a lenha acumulada à minha frente. Tenho o passado acumulado no meu olvido. Vou acender o fogão, acender a evocação.
O silêncio na casa.
O silêncio lá fora. Imagens ternas do que passou. Minha comoção oblíqua. Reacender à vida o que morreu. Vou acender o fogão.
Vergílio Ferreira
Eu também.
Só os poetas o notarão.
E agora vou sentar-me um pouco na sala enquanto te escrevo aqui no quarto. E ouço na rádio um concerto para oboé que é bom ouvir aqui, enquanto estou lá dentro.
Vergílio Ferreira
Sim, só os poetas.
:)
:)
os poetas, frágeis páginas de canduras oníricas
bom dia guardião da palavra
Ah, os poetas, esses frágeis e insustentáveis nubívagos voando sobre as planícies e os altos cumes do nada!
:)
boa-tarde, sábia arquitecta do verbo!
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