CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: junho 2011

segunda-feira

A música é o que me impede de ser totalmente incrédulo. (Léo Ferré)

domingo

agastam-me as palavras


"Abalarei os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca..."
(Ageu 2:6-21)



Hoje, venho dizer-vos que me agastam e entristecem as palavras.
Sou o errático andante que caminha descalço ou de sandálias pelo deserto das palavras, e as ama e anatomiza, as detesta e anatematiza, e volta a anatomizar e a amar e de novo a abominá-las e a anatematizá-las… e a amá-las…

Às palavras, a esses seres estranhíssimos que permitem amar e odiar em simultâneo, que nos amarram e escravizam e nos acenam depois com ventos de amor e liberdade, para voltarem de novo a acorrentar-nos sem piedade, há que rasgá-las, fendê-las, rachá-las, ateá-las e incendiá-las como lenha seca que arde em gigantesca pira - piramidal pira, diria, não fora a cacofonia - em sinuosas e ondulantes flamas de sangue.

Haverá estilhaços incandescentes e brasas incendiando todas as memórias.
E haverá fumo e uma inundação de luz e cinzas pairando. Perfurando o silêncio algemado e trucidado em serpejantes labaredas.
E haverá, outrossim, farpas. Dolorosas farpas rasgando e lacerando profundamente a pele, a carne e as ansas, qual mítica fénix de asas dilaceradas.

E dessa inundação de cinzas e de restos carbonizados, as palavras hão-de fluir de novo e voar, sopradas pelo vulturno nas noites soturnas e sem luar, ou nas manhãs e tardes aprazíveis e solares, impelidas pelo brando zéfiro, em eminentes vertigens de fénix renascidas.

Redescubramo-las e reinventemo-las, estáticas ou dinâmicas, desde o início de todas as linguagens.

Como na língua dos Hervos, que aqui vos deixo em soneto, neste meu deserto de vento e areia:




Concerning Hobbits (Shire Teme),
do filme The Lord of the Rings.




Soneto aos Hervos



Baixa lúcido o sol sobre os montíolos,
E já a luz sidárvia dos sidócitos,
Elíptica, tremula entre os gladíolos,
Trespassando as vidraças dos esmócitos.

Crescem na tarde lânguidos ortíolos,
Em atávicos salmos tão bartócitos,
Que agitam, paladinos, os pecíolos
Das hastes alongadas dos acrócitos.

Ouve-se ao longe uma harpa merencória
Que aflita geme com a frauta lírica,
Enquanto a noite desce transitória.

São os hervos que voltam da hortírica
Com uvas de corinto e fruta hespória
E mil sorrisos de candura onírica.



São os Hervos um povo gentil e humilde, amante da natureza, que habita os Vales Solitários do Nunca, contíguos à Terra-do-Meio, onde vivem os Hobbits, seus parentes próximos, que amam igualmente a natureza, a paz e o seu semelhante, e não se importam, minimamente, com o que se passa no resto do mundo, que, alías, não conhecem nem nunca ouviram falar.
P.S.: as palavras em itálico constam dos dicionários dos Hervos, e em nenhum mais. ;)

sexta-feira


Não sou livre
Senão quando me sinto livre.

Paul Valéry
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