welwitschia mirabilis
Enya - “Storms in Africa”


welwitschia mirabilis
Quem te traz, planta solitária do deserto, ao longo dos séculos?
Quem te alimenta e às tuas flores na estéril gleba?
Que braço, que mão, que asas, que anjo ou demónio
te conduzem e protegem na cela aberta da tua desmedida solidão?
Que ventos selvagens e sem amarras arrebatam os teus alados periantos
e os transportam por sobre as dunas do tempo
pela planura imensa e faiscante?
Que hálito de inclemência e sal é este que sopra do largo?
Por que afagas nas tuas asas aqueles que te consomem e queimam ao longo dos séculos?
Donde a força que os desgoverna desde os indecisos confins?
Donde o ânimo que os faz subir as altas muralhas
de fragas e penhascos da desventrada Costa dos Esqueletos,
qual caravana de serpentes enoveladas e arrastadas
por sobre as tuas verdes asas, como demónios violadores?
Como sobrevives, se dentro das implacáveis labaredas?
Como resistes, eterna e glauca e sempre fresca
na envoltura de cal da sáfara planície de restos?
Como seguras o tempo primário e imóvel
nas areias de sal e de vento e de fogo
que fustigam e torturam as tuas enigmáticas brácteas?
E o Sol, por que o recebes de braços abertos,
quando é ele que queima o orvalho transparente e breve
que haures na lentidão silente das tuas madrugadas?
Que umbráculos acautelam a tua semente incendiada
quando o astro-rei fulgura sobre os ponteiros do meio-dia?
Por que o recebes com o teu sorriso secular e aberto,
a ele, que abrasa as areias e as pedras à tua volta
até às pálpebras vermelhas do crepúsculo?
Que espúrias cinzas te renascem,
gloriosa fénix africana, ao longo das centúrias?
Donde os plangentes e lacerados lamentos de harpa
que te amanhecem e trespassam de perpétua solidão?
Tu que tudo sabes e perdoas, flor solitária do deserto,
tu que sofres no mar de areia, de fogo e de vento
que se alevanta do mar frio da Costa dos Esqueletos,
diz-me… diz-me… terna amiga: "como se cura a solidão?"
Quero dormir esta noite dentro dos teus braços milenares.
Abrigado pelas tuas asas verde-jade.
Nas margens precárias do meu leito,
tendo por limite as paredes oblíquas do meu quarto de vento e areia,
quero beber contigo o frio e doce orvalho da madrugada.
E quando a Lua plena iniciar a descida pelas escadas azulinas do zénite,
quero ser um dos navios naufragados.
Sem mastros, sem velas e sem leme,
vestido de vento e espuma, vogarei contigo
em liberdade de algemas pelos lençóis de bruma do Golfo
e, desgovernados, adernaremos
por sobre os espelhos de areia e algas da Praia dos Esqueletos.
No meu sonho alado e sem âncoras,
quando o mel lunar encher de oiro o nosso território,
perguntar-te-ei, de novo, como se preenche o vazio da solidão.
E tu dir-me-ás então, e tão-somente, que frágil é o corpo, e efémero é o sonho.
E eu sei, amiga, que por aí te ficarás.
E juntos adormeceremos de mãos dadas
sob as horas ermas de silêncio e solidão sem limites
que nocturnas e demoradas tombam
por sobre o chão lunar do mítico Namib.
Zénite
Quem te alimenta e às tuas flores na estéril gleba?
Que braço, que mão, que asas, que anjo ou demónio
te conduzem e protegem na cela aberta da tua desmedida solidão?
Que ventos selvagens e sem amarras arrebatam os teus alados periantos
e os transportam por sobre as dunas do tempo
pela planura imensa e faiscante?
Que hálito de inclemência e sal é este que sopra do largo?
Por que afagas nas tuas asas aqueles que te consomem e queimam ao longo dos séculos?
Donde a força que os desgoverna desde os indecisos confins?
Donde o ânimo que os faz subir as altas muralhas
de fragas e penhascos da desventrada Costa dos Esqueletos,
qual caravana de serpentes enoveladas e arrastadas
por sobre as tuas verdes asas, como demónios violadores?
Como sobrevives, se dentro das implacáveis labaredas?
Como resistes, eterna e glauca e sempre fresca
na envoltura de cal da sáfara planície de restos?
Como seguras o tempo primário e imóvel
nas areias de sal e de vento e de fogo
que fustigam e torturam as tuas enigmáticas brácteas?
E o Sol, por que o recebes de braços abertos,
quando é ele que queima o orvalho transparente e breve
que haures na lentidão silente das tuas madrugadas?
Que umbráculos acautelam a tua semente incendiada
quando o astro-rei fulgura sobre os ponteiros do meio-dia?
Por que o recebes com o teu sorriso secular e aberto,
a ele, que abrasa as areias e as pedras à tua volta
até às pálpebras vermelhas do crepúsculo?
Que espúrias cinzas te renascem,
gloriosa fénix africana, ao longo das centúrias?
Donde os plangentes e lacerados lamentos de harpa
que te amanhecem e trespassam de perpétua solidão?
Tu que tudo sabes e perdoas, flor solitária do deserto,
tu que sofres no mar de areia, de fogo e de vento
que se alevanta do mar frio da Costa dos Esqueletos,
diz-me… diz-me… terna amiga: "como se cura a solidão?"
Quero dormir esta noite dentro dos teus braços milenares.
Abrigado pelas tuas asas verde-jade.
Nas margens precárias do meu leito,
tendo por limite as paredes oblíquas do meu quarto de vento e areia,
quero beber contigo o frio e doce orvalho da madrugada.
E quando a Lua plena iniciar a descida pelas escadas azulinas do zénite,
quero ser um dos navios naufragados.
Sem mastros, sem velas e sem leme,
vestido de vento e espuma, vogarei contigo
em liberdade de algemas pelos lençóis de bruma do Golfo
e, desgovernados, adernaremos
por sobre os espelhos de areia e algas da Praia dos Esqueletos.
No meu sonho alado e sem âncoras,
quando o mel lunar encher de oiro o nosso território,
perguntar-te-ei, de novo, como se preenche o vazio da solidão.
E tu dir-me-ás então, e tão-somente, que frágil é o corpo, e efémero é o sonho.
E eu sei, amiga, que por aí te ficarás.
E juntos adormeceremos de mãos dadas
sob as horas ermas de silêncio e solidão sem limites
que nocturnas e demoradas tombam
por sobre o chão lunar do mítico Namib.
Zénite
Nota:
É difícil avaliar a idade que estas plantas atingem, mas pensa-se que possam viver mais de 1000 anos. Algumas poderão ter mais que 2000 anos.
Fonte: Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Welwitschia_mirabilis
É difícil avaliar a idade que estas plantas atingem, mas pensa-se que possam viver mais de 1000 anos. Algumas poderão ter mais que 2000 anos.
Fonte: Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Welwitschia_mirabilis
5 Comments:
Adormecer mientras las manos se cobijan, el más bello adormecer.
Maravillosos versos.
Comment
Post/Leave a/your comment não é?
Difícil. Muito difícil quando as palavras fluem assim. Dizem assim.
Raízes. Serão as raízes que chegam ao outro lado do mundo? E de lá sugam Sol ou Lua?
Talvez porque já é amanhã do outro lado do mundo?
não sei se fiquei mais comovida impressionada ou estupefacta ...
nesse cruzar de ti com a planta com as palavras. num estado de perfeita osmose.
de sempre até sempre...
e tanto e tão belo o mistério desses braços vegetais que sobrevivem a todos os fogos e encandeiam a imaginação e nos trazem tão imenso desejo de lhes entender a pele a clorofila a quase infinitude...
beijO
Caro Zénite
2 mil anos?! uma planta?! e no deserto?! Bem...é de facto extraordinária. Ninguém como ela, que já viu de tudo, para esclarecer os humanos (tão breves)sobre as grandes questões como por exemplo: de que é feita a solidão e como se cura.
Tenha um excelente final de tarde :)
Cara Anatema
É bom adormecer de mãos dadas, enquanto lenta e silenciosamente se escoam as horas ermas.
Abraço.
____
Cara Teresamaremar
Sim, talvez as raízes circundem o Globo e se alimentem do ontem e do amanhã, em simultâneo, para assim serem futuras e eternas.
Abraço.
_____
Cara Un Dress
osmose
clorofila
fotossíntese
simbiose.
o desejado
equilíbrio entre
o homem e as plantas
através do verbo e do gesto
tantas vezes sem cumprimento!
Beijo.
____
Cara Maite
É isso que pergunto à terna welwitschia, mas ela, misteriosa como uma esfinge, limita-se a dizer-me que frágil é o corpo, e efémero é o sonho. E por aí se fica. :)
Abraço.
Enviar um comentário
<< Home