CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: welwitschia mirabilis

terça-feira

welwitschia mirabilis


Enya - “Storms in Africa”





welwitschia mirabilis

Quem te traz, planta solitária do deserto, ao longo dos séculos?
Quem te alimenta e às tuas flores na estéril gleba?
Que braço, que mão, que asas, que anjo ou demónio
te conduzem e protegem na cela aberta da tua desmedida solidão?

Que ventos selvagens e sem amarras arrebatam os teus alados periantos
e os transportam por sobre as dunas do tempo
pela planura imensa e faiscante?
Que hálito de inclemência e sal é este que sopra do largo?

Por que afagas nas tuas asas aqueles que te consomem e queimam ao longo dos séculos?
Donde a força que os desgoverna desde os indecisos confins?
Donde o ânimo que os faz subir as altas muralhas
de fragas e penhascos da desventrada Costa dos Esqueletos,
qual caravana de serpentes enoveladas e arrastadas
por sobre as tuas verdes asas, como demónios violadores?

Como sobrevives, se dentro das implacáveis labaredas?
Como resistes, eterna e glauca e sempre fresca
na envoltura de cal da sáfara planície de restos?
Como seguras o tempo primário e imóvel
nas areias de sal e de vento e de fogo
que fustigam e torturam as tuas enigmáticas brácteas?

E o Sol, por que o recebes de braços abertos,
quando é ele que queima o orvalho transparente e breve
que haures na lentidão silente das tuas madrugadas?
Que umbráculos acautelam a tua semente incendiada
quando o astro-rei fulgura sobre os ponteiros do meio-dia?
Por que o recebes com o teu sorriso secular e aberto,
a ele, que abrasa as areias e as pedras à tua volta
até às pálpebras vermelhas do crepúsculo?

Que espúrias cinzas te renascem,
gloriosa fénix africana, ao longo das centúrias?
Donde os plangentes e lacerados lamentos de harpa
que te amanhecem e trespassam de perpétua solidão?

Tu que tudo sabes e perdoas, flor solitária do deserto,
tu que sofres no mar de areia, de fogo e de vento
que se alevanta do mar frio da Costa dos Esqueletos,
diz-me… diz-me… terna amiga: "como se cura a solidão?"

Quero dormir esta noite dentro dos teus braços milenares.
Abrigado pelas tuas asas verde-jade.
Nas margens precárias do meu leito,
tendo por limite as paredes oblíquas do meu quarto de vento e areia,
quero beber contigo o frio e doce orvalho da madrugada.

E quando a Lua plena iniciar a descida pelas escadas azulinas do zénite,
quero ser um dos navios naufragados.
Sem mastros, sem velas e sem leme,
vestido de vento e espuma, vogarei contigo
em liberdade de algemas pelos lençóis de bruma do Golfo
e, desgovernados, adernaremos
por sobre os espelhos de areia e algas da Praia dos Esqueletos.

No meu sonho alado e sem âncoras,
quando o mel lunar encher de oiro o nosso território,
perguntar-te-ei, de novo, como se preenche o vazio da solidão.
E tu dir-me-ás então, e tão-somente, que frágil é o corpo, e efémero é o sonho.
E eu sei, amiga, que por aí te ficarás.

E juntos adormeceremos de mãos dadas
sob as horas ermas de silêncio e solidão sem limites
que nocturnas e demoradas tombam
por sobre o chão lunar do mítico Namib.

Zénite


Nota:
É difícil avaliar a idade que estas plantas atingem, mas pensa-se que possam viver mais de 1000 anos. Algumas poderão ter mais que 2000 anos.
Fonte: Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Welwitschia_mirabilis

5 Comments:

Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Adormecer mientras las manos se cobijan, el más bello adormecer.

Maravillosos versos.

11:42 da tarde, junho 18, 2007  
Blogger teresamaremar said...

Comment
Post/Leave a/your comment não é?
Difícil. Muito difícil quando as palavras fluem assim. Dizem assim.

Raízes. Serão as raízes que chegam ao outro lado do mundo? E de lá sugam Sol ou Lua?
Talvez porque já é amanhã do outro lado do mundo?

2:36 da manhã, agosto 01, 2007  
Blogger un dress said...

não sei se fiquei mais comovida impressionada ou estupefacta ...

nesse cruzar de ti com a planta com as palavras. num estado de perfeita osmose.
de sempre até sempre...

e tanto e tão belo o mistério desses braços vegetais que sobrevivem a todos os fogos e encandeiam a imaginação e nos trazem tão imenso desejo de lhes entender a pele a clorofila a quase infinitude...



beijO

11:36 da tarde, agosto 01, 2007  
Blogger Maite said...

Caro Zénite

2 mil anos?! uma planta?! e no deserto?! Bem...é de facto extraordinária. Ninguém como ela, que já viu de tudo, para esclarecer os humanos (tão breves)sobre as grandes questões como por exemplo: de que é feita a solidão e como se cura.

Tenha um excelente final de tarde :)

7:53 da tarde, agosto 02, 2007  
Blogger Zénite said...

Cara Anatema

É bom adormecer de mãos dadas, enquanto lenta e silenciosamente se escoam as horas ermas.

Abraço.

____

Cara Teresamaremar

Sim, talvez as raízes circundem o Globo e se alimentem do ontem e do amanhã, em simultâneo, para assim serem futuras e eternas.

Abraço.

_____

Cara Un Dress

osmose
clorofila
fotossíntese
simbiose.
o desejado
equilíbrio entre
o homem e as plantas
através do verbo e do gesto
tantas vezes sem cumprimento!

Beijo.
____

Cara Maite

É isso que pergunto à terna welwitschia, mas ela, misteriosa como uma esfinge, limita-se a dizer-me que frágil é o corpo, e efémero é o sonho. E por aí se fica. :)

Abraço.

12:41 da manhã, agosto 03, 2007  

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