CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: Deixai dormir as palavras

quarta-feira

Deixai dormir as palavras


Dead Can Dance - Into the Labyrinth - “Yulunga (Spirit Dance)"




Deixai dormir as palavras

Imaculadas e inócuas
as palavras dormem
no seio do dicionário
o sono profundo dos inocentes.
Não as acordem.
Ouçam simplesmente o seu silêncio:
metódico, alfabético, inquietante.

Úbere semeadura esta
que tanto medra em bons viveiros
como na mais agreste tojeira.

Dentro de um dicionário,
do caos ao verbo,
cabe todo o Universo:
sem eufemismos
sem hipérboles
sem metáforas
sem calendário.

Por vezes é um bom semáforo
o meu dicionário:
sabe soltar o verde da esperança
cuidar do amarelo da temperança
e parar no vermelho, por segurança.

Mas deveria ter mais sinais
o meu dicionário.
Deveria acautelar-me
porquanto nele comungam
vida e morte
respeito e desprezo
nobreza e preconceito
ciúme e remorso.

Nele crescem lado a lado
a iniquidade e a justiça
a bondade e a ferocidade
a irracionalidade e a razão
a fidelidade e a traição.

E, como se tudo isto não bastasse,
o verbo e o caos
vagueiam perdidos pelo meu dicionário,
no particípio e no presente,
como sempre,
desde o princípio.
Tantas são as vezes
em que a dúvida se sobrepõe à certeza
o ódio ao amor
a indignidade à nobreza
a cobardia à coragem
a penúria à riqueza
a guerra à paz.

Ventos oscilantes e incertos
deambulam nas dobras vazias do tempo
sobre as searas incendiadas
que medram no meu dicionário.

Deixai, pois, dormir as palavras!
Deixai-as dormir, deixai!

35 Comments:

Blogger Gi said...

Vim e vou de mansinho para não as acordar. Uma pena que que também os Dead Can Dance se tenham silenciado. Mesmo a propósito!

Bom fim de semana, um beijinho

9:55 da manhã, julho 14, 2007  
Anonymous Anónimo said...

gostei de ler!

e lia-te sobre as palavras e pensava como elas são bem o paradoxo da própria natureza humana (ou não tivessem sido criadas pelos homens), nelas também essa dualidade das várias nuances do bem e do mal -

10:15 da manhã, julho 14, 2007  
Blogger Maite said...

Caro Zénite

...(silêncio, em respeito pelas palavras)

parêntese:(As palavras são só por si "inócuas", de facto. O contexto que alguém lhes empresta é que as pode tornar punhais ou leve brisa).

Um bom fim de semana para si ao sol
e com muito sal, areia, espuma e água no paralelo 38 :)

4:01 da tarde, julho 14, 2007  
Blogger Zénite said...

Cara Maite,

Sábias palavras: "punhais ou leve brisa".

Será mais que o fim de semana, mas vejo que apanhou bem o contexto. :)

O "paralelo 38" - o que divide as duas Coreias - foi somente para despistar. Estarei no paralelo (38-1), mais minuto menos minuto. Quanto à longitude, oscilará, mais segundo menos segundo, entre os 7 e 8º W. ;)

Um abraço e um bom fim-de-semana para si.

4:18 da tarde, julho 14, 2007  
Blogger Zénite said...

Cara Gi, espero que já consigas ouvir os DCD, sem silêncios nem intermitências.

Beijinho e bom fim-de-semana.

Cara Maria M.

Grato pelas tuas palavras.

Beijinho e bom fim-de-semana.

4:22 da tarde, julho 14, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Después de ver el vídeo, cree, me he quedado sin palabras.

Duermen en cada hoja del diccionario.

En un sueño de retorno. En sueño de infancia.

Felices noches.

Todas.

12:29 da manhã, julho 15, 2007  
Blogger Zénite said...

Amiga Anatema

Grato por tus palabras.
Felices noches y felices días también para ti.

Abrazo fuerte.

P.S.: salgo para el sur por unos días.

10:46 da manhã, julho 15, 2007  
Blogger un dress said...

belo sono bela ausência de palavras.

as palavras estão.

dormindo. iguais às pessoas.
embalo-as e ignoro-lhes o veneno e a possilbilidade de se tornarem clowns de si.outras sendo...

palavras de vida e de morte ...pois. mel e lâmina...

teremos com as palavras o mesmo acto de compaixão que temos com qualquer ser que respira...

que respiram as palavras: em nós...

que as palavras te iluminam a ti...sem sombra de dúvida!!! :)




MuiTo bOnS.diaS...:)

beijO

12:58 da tarde, julho 15, 2007  
Blogger un dress said...

mas ainda tenho que te dizer que aspiro a outras comunicações...

onde as palavras não monopolizem e representem todos os papéis...




mais um beijO

1:03 da tarde, julho 15, 2007  
Blogger Rosa Brava said...

"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."

(Alexandre O'Neill)


Porque é no sentido que cada um embala a palavra, que ela dança num mar de cristais ou de punhais...

Um abraço e boas férias :-))

10:59 da manhã, julho 16, 2007  
Blogger Ana Paula Sena said...

Muito bonito mesmo! :)
Por vezes, as palavras precisam de algum descanso. Também têm direito ao silêncio. Elas e nós.

4:35 da manhã, julho 18, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Volta breve. Preciso de ti.

jocas grandes

12:53 da manhã, julho 19, 2007  
Blogger teresamaremar said...

O filme, o livro, o texto

fico sem palavras para este conjunto comentar.

Gostei muito.

1:11 da manhã, julho 20, 2007  
Blogger Lis said...

cisne negro disse...
Traz-me um pedaço dessa terra nua, e com ela modelarei os meus dedos de argila. E os meus dedos de argila hão-de ter raízes, e dessas raízes hão-de brotar palavras sobre as claves mudas. E as claves mudas hão-de converter-se em navio. Num navio estranho, de fogo e verbo, ondulando vertiginosamente ao sabor do vulturno como um nocturno avejão de asas dilaceradas. Um navio sem velas, nem leme, nem mastros, vogando silencioso na noite atra, em busca de um porto de abrigo. Um navio fantasma que tenha por pavilhão a saudade da memória inicial e por tripulantes esses espectros de pedra e vento e areia que são os meus dedos de argila. Nascidos da terra nua que nos trazes. A terra desvestida que já esplendeu e aqueceu – falo da minha terra nua -, ora convertida num frígido cristal de vídeo plangente, onde perscruto os horizontes perdidos da distância-abismo, nesta floresta de sons mudos vestidos de espelhos de espuma e lâmpadas estranhas.

Obrigado, amiga. Nem sabes o bem que, tão generosamente, me prodigalizaste.

Lembaste disto? Não percebi o que quiseste dizer...ou melhor não sei se percebi bem...Explicas, pfv?

7:26 da tarde, julho 20, 2007  
Blogger Unknown said...

Boa noite Zénite.

a escuridão faz das estrelas, brancos cabelos na cabeça do céu.

as palavras são estrelas nas noites dos poemas.

Não importa saber o que é a poesia importa senti-la e dizê-la como a sentimos, levando-a nos rápidos do rio ao limite da alma de cada um. como se houvesse limites para quem segue sonhos....

11:47 da tarde, julho 20, 2007  
Blogger António Miguel Miranda said...

Divulgação

Mais um Blog que se tornou um Livro!

www.camaradachoco.blogspot.com

6:15 da tarde, julho 23, 2007  
Blogger Zénite said...

na pátina submersa da voragem dos dias
quando arrastadas pelo galerno
as folhas silenciosas do calendário da terra
se reviram sobre o chão ainda morno
das arestas imperceptíveis de agosto
outono-me e parto com elas
em aromas de chuva e vinho mosto

[silencio assim o verbo
por tempo indeterminado
mas jamais o gesto
de também em silêncio
sempre vos visitar]


Manifesto aqui a minha gratidão a todas (todos) as(os) comentadoras (comentadores) e restantes visitantes que passaram/passam pela minha humilde casa.

Com um grande abraço.




10:38

11:16 da manhã, setembro 24, 2007  
Blogger un dress said...

zénite dos ventos

dos ventos zénite


silêncio ou palavras

pouca a diferença


aqui estamos pois

sempre e agora




até.já

:) abraÇo-te

um beijO

9:32 da tarde, setembro 24, 2007  
Blogger © Maria Manuel said...

«na pátina submersa da voragem dos dias»...
... é-te necessário este silêncio, agora, aqui.

obrigada eu por partilhares a tua escrita, a tua poesia, connosco. espero que esta continue a fazer parte da tua vida, de alguma outra forma.

abraço!

9:45 da manhã, setembro 25, 2007  
Blogger un dress said...

...:) em b al AR

2:15 da tarde, setembro 25, 2007  
Blogger Mitsou said...

Estas não!
Bem acordadas, despertam a vontade de as tomarmos como nossas, guardadas num dicionário sem hora nem calendário.

(Como eu gostaria que pudessem ser as que o ofício me exige :)

Um beijo doce, amigo!

9:12 da tarde, setembro 25, 2007  
Blogger teresamaremar said...

Adormecem, então, as palavras.
Por vezes urge. Porventura para que melhor despertem.

Grata por todas visitas e comentários deixados nos meus cantos.

Um bom Outono :)

3:36 da manhã, setembro 29, 2007  
Blogger isabel mendes ferreira said...

deixo. deixo o maior abraço.


>_

porque está Magnifico!!!!!!!!!!!


____________________


beijo. matinal.

10:54 da manhã, setembro 29, 2007  
Blogger Maite said...

Caro Zénite

Passando para o reler... e deixo-lhe desejos de um bom Outono para si também.
À propos ...September is ending :) or :( Tempo de acordar? :)

Fique bem

5:26 da tarde, setembro 30, 2007  
Blogger teresamaremar said...

Venho agradecer,
as palavras, os pensamentos, as visitas.

Deixai, pois, dormir as palavras!
Sei o que é urgir partir. E depois voltar.

Que a pausa seja pontual e que o dicionário se abra nas palavras despertar, regressar,

Que o Outono vá sendo leve e apaziguador.

Tudo de bom para ti.

9:33 da tarde, setembro 30, 2007  
Blogger Nanny said...

E não serão já horas de as acordar? Agora que o Outono já se instala em plena força e que as folhas já se recobrem de dourados e castanhos...

Beijinhos

10:44 da tarde, setembro 30, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Gran amigo:

Que tu ausencia no sea excesiva.

Es necesaria tu impagable presencia aquí, en mí.

Un abrazo. Desmedido.

11:40 da tarde, outubro 02, 2007  
Blogger un dress said...

Este comentário foi removido pelo autor.

11:25 da manhã, outubro 06, 2007  
Blogger un dress said...

muito além de todOs os ventOs



um beijO

11:25 da manhã, outubro 06, 2007  
Blogger un dress said...

...um abraÇo

11:25 da manhã, outubro 06, 2007  
Blogger teresamaremar said...

A vida não reside na morte, ao contrário do que nadir subscreveria.

:) vim espreitar se esta casa se (re)abrira.

12:18 da manhã, outubro 08, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Tus palabras duermen. Descansan, ajenas al crujir de las hojas muertas sobre el suelo.

Tus palabras duermen, sí, pero hay un no sé qué de mágico, que se intuyen. Intuyo tus palabras guardadas en cajita de Pandora y, como siempre, llegan imprimiendo esa calma y ese sosiego que acostumbran.

Un fuerte abrazo amigo.

10:24 da tarde, outubro 08, 2007  
Anonymous Anónimo said...

A Vera Cruz leva a memória, a simbologia e a palavra a impérios onde o sol se põe.
Intencionalidade missionária que cruza oceanos, e desconstroi a solidão nos lugares onde chega.
Que não adormeça a transversalidade que habita nas palavras.

1:04 da manhã, outubro 12, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Vera e Ditosa Cruzinha, gosto da "desconstrução da solidão" e da "transversalidade que habita nas palavras" como se fora o transepto que cruza a nave... na perpendicularidade :))

12:37 da manhã, dezembro 28, 2007  
Blogger Menina Marota said...

Dando uma volta pelos blogues que foram/são referencia para mim.
Saio triste. Vou mais pobre, sem as tuas palavras.

Um abraço e que estejas bem.

9:21 da tarde, junho 11, 2020  

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