CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: Pavana triste pela mocinha vitimada pelo coronel (in)sensível

segunda-feira

Pavana triste pela mocinha vitimada pelo coronel (in)sensível





Gabriel Fauré (1845-1924), Pavana, opus 50.

Sim, quinze anos tinha
no seu corpo em brasa
a infeliz mocinha
que não tinha casa.
Tinha tranças d’oiro
e a pele alvacenta,
tu foste o primeiro
a arrastar-lhe a asa
naquele Janeiro
dos anos setenta.

Ela pai não teve
sequer tinha mãe
não tinha sapatos
não tinha vestidos
não tinha ninguém,
só dias sofridos.

Não havia lua
não havia estrelas
nem sequer abrigo,
a casa era a rua
da pobre donzela
que não tinha amigos.

O seu corpo grácil
de pele de alabastro
jamais resvalado
em sua puridade
não tinha cadastro
mas foi presa fácil
dum lobo esfaimado.

Se um dia voltares
à estrada velha
no negrume agreste,
detém-te e descobre-te,
acende uma vela.

Verás numa faia
- ou “feral cipreste”? -
a seta-coração
bem como a mensagem
que a bela catraia
em aflito pranto
no tronco entalhou
nessa noite túmulo
do seu corpo espanto.
Verás, para cúmulo,
que foste o primeiro
e também o último
a dar-lhe dinheiro.

(Zénite)

NOTA: a expressão “feral cipreste” foi retirada de "O Noivado do Sepulcro", de Soares de Passos.

já a seguir, o bolero do dito coronel:

Bolero do coronel sensível
que fez amor em Monsanto


Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada


(António Lobo Antunes)

4 Comments:

Blogger isabel mendes ferreira said...

_________________
_________________



brilhante. a simbiose!!!!!!!!!!






obrigada.



beijo.

12:04 da manhã, junho 19, 2007  
Blogger Mar Arável said...

excelente

1:07 da manhã, junho 19, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

HABÍA LEÍDO YA ESTO NO HACE MUCHO TIEMPO?

Y SIN EMBARGO ME SIGUE EMOCIONANDO.

UN ABRAZO AMIGO.

1:02 da manhã, junho 20, 2007  
Blogger Zénite said...

Sim, Amiga Anatema, o meu escrito tem já alguns uns meses.

Abraço.

3:20 da tarde, abril 28, 2009  

Enviar um comentário

<< Home

. .