CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: agastam-me as palavras

domingo

agastam-me as palavras


"Abalarei os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca..."
(Ageu 2:6-21)



Hoje, venho dizer-vos que me agastam e entristecem as palavras.
Sou o errático andante que caminha descalço ou de sandálias pelo deserto das palavras, e as ama e anatomiza, as detesta e anatematiza, e volta a anatomizar e a amar e de novo a abominá-las e a anatematizá-las… e a amá-las…

Às palavras, a esses seres estranhíssimos que permitem amar e odiar em simultâneo, que nos amarram e escravizam e nos acenam depois com ventos de amor e liberdade, para voltarem de novo a acorrentar-nos sem piedade, há que rasgá-las, fendê-las, rachá-las, ateá-las e incendiá-las como lenha seca que arde em gigantesca pira - piramidal pira, diria, não fora a cacofonia - em sinuosas e ondulantes flamas de sangue.

Haverá estilhaços incandescentes e brasas incendiando todas as memórias.
E haverá fumo e uma inundação de luz e cinzas pairando. Perfurando o silêncio algemado e trucidado em serpejantes labaredas.
E haverá, outrossim, farpas. Dolorosas farpas rasgando e lacerando profundamente a pele, a carne e as ansas, qual mítica fénix de asas dilaceradas.

E dessa inundação de cinzas e de restos carbonizados, as palavras hão-de fluir de novo e voar, sopradas pelo vulturno nas noites soturnas e sem luar, ou nas manhãs e tardes aprazíveis e solares, impelidas pelo brando zéfiro, em eminentes vertigens de fénix renascidas.

Redescubramo-las e reinventemo-las, estáticas ou dinâmicas, desde o início de todas as linguagens.

Como na língua dos Hervos, que aqui vos deixo em soneto, neste meu deserto de vento e areia:




Concerning Hobbits (Shire Teme),
do filme The Lord of the Rings.




Soneto aos Hervos



Baixa lúcido o sol sobre os montíolos,
E já a luz sidárvia dos sidócitos,
Elíptica, tremula entre os gladíolos,
Trespassando as vidraças dos esmócitos.

Crescem na tarde lânguidos ortíolos,
Em atávicos salmos tão bartócitos,
Que agitam, paladinos, os pecíolos
Das hastes alongadas dos acrócitos.

Ouve-se ao longe uma harpa merencória
Que aflita geme com a frauta lírica,
Enquanto a noite desce transitória.

São os hervos que voltam da hortírica
Com uvas de corinto e fruta hespória
E mil sorrisos de candura onírica.



São os Hervos um povo gentil e humilde, amante da natureza, que habita os Vales Solitários do Nunca, contíguos à Terra-do-Meio, onde vivem os Hobbits, seus parentes próximos, que amam igualmente a natureza, a paz e o seu semelhante, e não se importam, minimamente, com o que se passa no resto do mundo, que, alías, não conhecem nem nunca ouviram falar.
P.S.: as palavras em itálico constam dos dicionários dos Hervos, e em nenhum mais. ;)

38 Comments:

Blogger un dress said...

sobre amar palavras... às vezes cansam as palavras.

são veneno também. magoamos e somos magoados com palavras.

e as palavras são lidas de diferente modo por cada um. o que não é bom nem mau. É...

e também às vezes lhes atribuímos a difícil missão de nos substituir as emoções e a vida...



olha, são só...palavras ao acaso estas...



tem uma bOa.nOite.serena ou animada, conforme o caso... :)

beijO

9:19 da tarde, julho 07, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Hoy, tu inspiración ha estado sublime.

Las PALABRAS. ¿Qué decir de ellas?
Ellas son tesoros al alcance de cualquiera aunque muchos no quieran descubrirlas ni sepan cómo se hace para aprehenderlas.

Las PALABRAS son la vida porque fluyen a través de nuestros labios, puerta y caverna de nuestro ser. De ellas aprendemos a vivir. De ellas nos valemos para que nos amen. Sí, para que nos amen. Todos nuestros proyectos se construyen con palabras, sonidos que brotan de lo más profundo de nuestro sentir.

Hoy tú, amigo mío, nos llenas de palabras dispersas, a modo de puzzle a descifrar. Hoy has descubierto un pedazo de cielo todavía por descubrir. Hoy, recurro al diccionario e intentaré descifrar tus sentimientos. Todo lo que de tus PALABRAS pueda deducirse.

Un abrazo.

(Hermoso soneto)

10:47 da tarde, julho 07, 2007  
Blogger Zénite said...

Tentei traduzir - à pressa, e para não colocar este palavreado no teu blog - utilizando o Microsoft Word e o dicionário online, da Real Academia Espanhola. Perdoarás os erros, que, evidentemente, serão muitos. Não disponho de tempo para tentar melhorar a tradução.

Quanto ao soneto, há palavras que só são do domínio dos Hervos. Com eles as aprendi. ;)


Hoy, me apetece decir, como Alice, que ya no amo las palabras - y ella me perdonará la alevosía de aquí dejar su nombre y sus palabras, que, en concreto, fueron ligeramente diferentes de mis palabras. Son estas las suyas: "ya no puedo amar palabras" .
Yo soy el errático andante que camina descalzo o de sandalias por el desierto de las palabras, y las ama y anatomiza, las detesta y anatematiza, y vuelve a anatomizarlas y a amarlas y de nuevo a abominarlas y anatematizarlas… y a amarlas…

A las palabras, a esos seres extrañísimos que permiten amar y odiar en simultáneo, que nos amarran y esclavizan y nos hacen señas después, con vientos de amor y libertad, para volver de nuevo a encadenarnos sin piedad, hay que rasgarlas, henderlas, rajarlas, encenderlas e incendiarlas como leña seca que arde en gigantesca pira - piramidal pira, diría, no fuera la cacofonía - en sinuosas y ondulantes flamas de sangre. Habrá astillas incandescentes y brasas incendiando todas las memorias.

Y habrá humo y una inundación de luz y cenizas pairando. Perforando el silencio anillado e mutilado en grandes llamas. Y habrá, asimismo, farpas. Dolorosas farpas rasgando y lacerando profundamente la piel, la carne y las ansas, cual mítica fénix de alas dilaceradas. Y de esa inundación de cenizas y de pedazos carbonizados, las palabras han de fluir de nuevo y volar, sopladas por el vulturno en las noches soturnas y sin luna, o en las mañanas y tardes amenas y solares, impelidas por el blando galerno, en eminentes vértigos de fénix renacidas.
Redescubramos e reinventemos las palabras, estáticas o dinámicas, desde el inicio de todas las lenguas. Como en la lengua madre de los Hervos :), que aquí dejo en soneto, en este mi desierto de viento y arena:



Soneto a los Hervos

Baja lúcido el sol sobre los montíolos,
Y ya la luz sidárvia de los sidócitos,
Elíptica, tremola entre los gladíolos,
Traspasando las vidrieras de los esmócitos.

Crecen en la tarde lánguidos ortíolos,
En atávicos salmos tan bartócitos,
Que agitan, paladinos, los pecíolos
De las astas alargadas de los acrócitos.

Se oye lejos una arpa merencória
Que aflicta gime con la flauta lírica,
Mientras la noche desciende transitoria.

Son los hervos, que vuelven de la hortírica
Con uvas de corinto y fruta hespória,
Y mil sonrisas de candidez onírica.


Abraço e noite tranquila, amiga.

12:19 da manhã, julho 08, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Gracias amigo.

Perfecta traducción para perfecto castellano.

Las palabras, bien dices, como el propio hombre, son también humus -abono al fin- que servirán de alimento a otras nuevas para renacer, si cabe, con mayor vigor y convicción. Como las tuyas.

Boa noite.

12:44 da manhã, julho 08, 2007  
Anonymous Anónimo said...

participe em www.luso-poemas.net
seria um prazer para nos a sua presença
:)

1:57 da manhã, julho 08, 2007  
Anonymous Anónimo said...

gostei de te ler!

Já tu, zénite, e un dress, anátema, disseram tanto sobre as palavras

Para mim, serão sempre um mistério… como explicar? As palavras têm o poder imenso de permitir uma comunicação entre os homens que não seria possível por outros meios, comunicação de pensamentos, elaborações mentais, sonhos, memórias,…, mas serão sempre imperfeitas, as palavras que nomeiam as coisas do mundo são arbitrárias invenções da humanidade e as demais são uma aproximação do que queremos dizer, não deixando também de ser convenções; por isso, às vezes, temos tanta dificuldade em dizer do nosso íntimo, e somos mal interpretados ou mais ou menos entendidos; é que há tanto indizível… depois, as palavras têm outros poderes imensos, mais perversos, de destruir, de ditar conflitos, guerras,…
Penso que a arte (da poesia, da prosa, do drama) tenta recriar o uso da linguagem e, nesse sentido, a palavra, através dela, torna-se mágica, se encontra outras formas de dizer, de se situar em nós, com os outros, de percepcionar o mundo…

(é-me sempre muito difícil encontrar palavras… para falar, para escrever... sinto assim...

tactear a escrita
na cegueira do desconhecido
no suor do ofício artesanal
na certeza do indizível
- a palavra possível)

8:20 da manhã, julho 08, 2007  
Anonymous Anónimo said...

E eu fiquei sem palavras.

Agastam-nos e desgastam-se as frases feitas como esta. Mas as emoções não, e é com palavras, poucas e caladas, que as transmitimos.

9:04 da manhã, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Amigo, claro que faltou um beijinho e votos de bom fim-de-semana!

9:05 da manhã, outubro 13, 2007  
Blogger Nanny said...

... mas há também as palavras doces e suaves, que sussuradas nos transportam, que exultam, que aquecem, que deliciam e enobrecem... as que acariciam e enternecem, as que acalentam ou nos fazem voar, sentir, tremer, nos aquecem dos pés à cabeça... enfim, elas são a nossa razão de existir... pelo menos aqui, isso é bem certo!

Com um beijo ou um ósculo me despeço, num abraço ou num amplexo, como preferirdes :-)

9:38 da tarde, outubro 14, 2007  
Anonymous Anónimo said...

qual harpa melancólica...


fico.

fico-me.



tão belo....
:)



beijo.


/piano.

11:54 da manhã, outubro 16, 2007  
Blogger Gi said...

Passei . Pensei-te voltado ...

e voltei a ler ... e a gostar

Um beijinho

9:56 da tarde, outubro 23, 2007  
Blogger chipichipi said...

As saudades que eu tinha de o ler!
nem imagina!
Amanhã volto com mais tempo, porque gosto, porque me faz bem!
Obrigada, mas obrigada por tudo mesmo!

9:59 da tarde, outubro 23, 2007  
Blogger isabel mendes ferreira said...

e se de repente te oferecesse flores?

sim porque este é o momento!!!!!



mesmo!



abraço.

11:18 da manhã, outubro 27, 2007  
Blogger Teresa Albuquerque said...

Estranho e lindo soneto!

3:41 da tarde, novembro 06, 2007  
Blogger chipichipi said...

Voltei cá!
Continuam as palavras que não me agastam nem canso de ler!
Até breve!

12:56 da manhã, novembro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Passei para deixar um beijinho saudoso da magia das tuas palavras.

12:21 da tarde, novembro 22, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Ah poeta! P O E T A!

12:03 da tarde, novembro 23, 2007  
Blogger Menina Marota said...

Voltada de uma ausência forçada, mas que não me fez esquecer as Palavras que amo, nem os seus Autores, fizeste-me recordar um Poeta que amo do coração e a sua poesia...

"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
..."

(Alexandre O'Neill)

que aqui te deixo com um abraço ;)

6:05 da tarde, novembro 23, 2007  
Blogger hora tardia said...

agasto-me. de tanta beleza.



____________
no bom sentido. é claro.


bjj.



/piano.

8:19 da manhã, novembro 29, 2007  
Blogger LUA DE LOBOS said...

porque as Palavras, ao serem ditas, ficam a pairar e não desaparecem no Infinito...
xi
maria de são pedro

7:22 da manhã, dezembro 09, 2007  
Blogger margarida said...

"Num tempo inteiro de espera e de silêncio,
jamais da longa ausência o desleal olvido..."

Feliz Natal, Poeta!

11:50 da manhã, dezembro 18, 2007  
Blogger teresamaremar said...

E venho deixar palabvras, a vermelho e verde, cheiro a Natal e a musgo.

E, com elas, dizer, Sereno Natal, binómio gasto, mas sempre renovado.

11:15 da manhã, dezembro 21, 2007  
Blogger isabel mendes ferreira said...

um beijo. apenas.






terno.

7:58 da tarde, dezembro 21, 2007  
Blogger LUA DE LOBOS said...

bom e santo Natal ... se possivel nas terra deles... dos tais ::))
xi
maria de são pedro

12:03 da tarde, dezembro 22, 2007  
Blogger LUA DE LOBOS said...

e já que estamos numa de castelhanao aí vai o meu único poema traduzido:)

Lobos

Leyenda de dos cadenas tormentosas
en que Amor y Odio se envuelven
y disuelven
en cristales de bruma fría.
Sierras azules,
allá, donde me pierdo
y me encuentro...
y hijos de agrestes peñascos
deslizan en la luz de plata de la luna,
aspirando tímidos,
perfumes de montaña.
Invento divino,
sueltan su magnífico aullido,
agitando sordamente
algo íntimo e inquietante.
Por vosotros,
mi canto subirá en espirales
y entre resplandores de Luz,
se encadenará en el infinito,
en esplendor mayor.

Maria de São Pedro

BOM NATAL

12:20 da tarde, dezembro 22, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Mi estimado Zenite:
Me ha alegrado tanto tu aparición en mi blog, que no sabría cómo definir lo que he sentido.

Creemos que tenemos amigos porque nos encontramos con ellos, porque tomamos un café o una copa juntos, sin embargo, están alejados de nosotros años luz.
Hay otros amigos, en cambio, como tú, a los que ni conocemos, ni hablamos su lengua, que están, incluso, allende nuestras fronteras, de los que sólo conocemos sus palabras y su forma de expresarlas, pero nos sentimos muy próximos a ellos. Por eso, tras un tiempo de ausencia, tu aparición repentina para felicitrme la navidad me ha reconfortado gratamente.
Y es, que, en el fondo, estamos tan necesitados de encontrar a alguien que haga juego con nuestra propio discurso y dialéctica, que cuando aparece nos resulta casi milagroso.

Muchas gracias por tu felicitación y te deseo lo mismo, que seas feliz. Simplemente.

Abrazo

2:22 da tarde, dezembro 22, 2007  
Blogger © Maria Manuel said...

zénite,
venho agradecer os teus votos de Boas Festas e desejar-te, a ti e aos teus, um natal tranquilo e um 2008 de esperança de paz e de muitos momentos de felicidade.

abraço.

11:36 da tarde, dezembro 22, 2007  
Blogger Maite said...

Caro Zénite

Feliz Natal para si e um excelente novo ano.

"E dessa inundação de cinzas e de restos carbonizados, as palavras hão-de fluir de novo e voar,..." neste blog :)

Abraço

5:45 da tarde, dezembro 23, 2007  
Blogger Ana Paula Sena said...

Boas Festas!
Que acompanham o seu bom regresso... :)

3:26 da manhã, dezembro 24, 2007  
Blogger un dress said...

NAS












CER









de sangue ar musgo vento e água








~






.beijO :)

1:55 da tarde, dezembro 24, 2007  
Blogger Menina Marota said...

Que o teu Natal seja em Paz e serenidade.
Um abraço

2:32 da manhã, dezembro 25, 2007  
Blogger ☆Fanny☆ said...

Olá

Espero que o teu Natal tenha sido abençoado com muito amor e alegria.
Que o Ano Novo se abra em sorrisos de prosperidade, Amor e muita Paz.

Aproveito para dizer que regressei ao Simplesmente Murmúrios com os meus textos. Não consigo viver longe das letras e dos amigos.

Um abraço de estrelinhas*

Fanny

8:48 da tarde, dezembro 27, 2007  
Blogger Nanny said...

Vim deixar-te um beijinho e votos de um bom ano 2008.

Saudades de te ler, oh desaparecido

8:30 da tarde, dezembro 30, 2007  
Blogger Gi said...

Julguei-te voltado. Gosto de te ler.

Votos que 2008 te traga , se não o que desejas, o que precisas. Obrigada por não te esqueceres de mim que sou tão distraída.

Um beijo grande. Sentido.

FELIZ ANO NOVO

1:21 da tarde, dezembro 31, 2007  
Blogger Ana Paula Sena said...

Um Feliz 2008! :)

7:03 da tarde, janeiro 01, 2008  
Blogger Mitsou said...

Feliz 2008, querido Amigo!

E para quando o regresso? :)

Beijos

2:49 da tarde, janeiro 02, 2008  
Blogger isabel mendes ferreira said...

deus....como é bom reler-Te.




beijo.

2:47 da tarde, abril 02, 2008  
Blogger Zénite said...

Expresso a minha gratidão a todas as comentadoras e comentadores deste blogue, bem como aos restantes visitantes.

Com um abraço.

10:55 da manhã, maio 01, 2008  

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