CHANSON D'AUTOMNE

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte

Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

Paul Verlaine
CASTELOS DE VENTO: Longe demais!

sexta-feira

Longe demais!




Longe demais!

Eu, nómada errante,
que só tenho à minha frente
o abrasante deserto
ondulante, sufocante,
com o meu coração palpitante
sob o Sol rutilante, ofuscante,
procuro-te…
Mas não te encontro!

Eu, solitário navegante,
sulco o serpenteante rio
de montante a jusante
e, qual almirante mareante,
procuro-te no infindo mar
bramante, espumante,
mas porque estás distante
qual fulgurante diamante…
Não te encontro!

Eu, que no crepúsculo agonizante
te procuro sob a procela
troante, retumbante,
e demando o teu semblante na noite apavorante,
na ausência do bruxuleante círio,
da cintilante estrela
e do luar minguante, cativante,
eu que quero contemplar-te
nos incêndios da brilhante aurora
levante, flamejante…
Não te encontro!

Eu, que intento descortinar-te
na gigante cidade
trepidante, trasbordante,
e na pacata aldeia
branquejante, fumegante,
que clamo por ti ao vento uivante,
e ele, decepcionante,
nada me diz e, ululante,
passa adiante…
Não te encontro!

Eu, qual cavaleiro andante,
que te procuro na dedálea
rota nevada de Kathmandu,
alvejante, serpejante,
na frondejante floresta amazónica
e no fascinante tando africano
verdejante, vicejante…
Não te encontro!

Eu, que sobre o teu paradeiro
consulto a pujante Primavera
deslumbrante, refrescante,
que interrogo o escaldante Verão
secante, causticante,
que te procuro no silêncio vacilante
do hesitante Outono
e pergunto por ti à folha declinante,
voante, dançante,
e questiono o trovejante Inverno
murmurante, cortante…
Não te encontro!

Eu, que inquiro a itinerante abelha
edificante, fabricante,
e interrogo a ambulante borboleta
irisante, mutante,
que pergunto por ti à estridulante cigarra
cantante, sonante,
e à emigrante andorinha
rasante, circulante…
Não te encontro!

Eu, que indago a tua morada
à viajante Lua
amante, inebriante,
e ao possante Júpiter
triunfante, iluminante,
que interpelo a irradiante Sírio
e o dardejante Sol
flamejante, coruscante…
E todos me respondem
com enigmáticas parábolas, alegorias e símiles
que não consigo decifrar.
Contra meu talante...
Não te encontro!

Impõem-se-me assim
o cepticismo de Pirron de Élis,
o estoicismo de Zenão de Cítio,
a ascese contemplativa de Platão,
mas ainda, e sempre, a esperança
do lume vivo dos teus olhos.

17 Comments:

Blogger Zénite said...

intermezzo

acosto ao sul
por entre o sal
e as algas
e agosto-me
onde o sol
se funde
em chamas
de mourisca cal



abraço!

1:39 da manhã, agosto 20, 2007  
Blogger . said...

busca diamantina, andante estrela
rutilante cavalo a trote
o teu andamento é o do sonho
onde a palavra não tem norte
nem os mapas se compram
nos quiosques do caminho

busca errante e submarina
o teu olhar tem pedras encastradas
são ágatas pequeninas
olhos que uma águia te emprestou
verás nas alturas um ponto insignificante no deserto
esse ponto será ela
e tu saberás que a tens perto
mas que o seu olhar se perdeu

rasa a planura arenosa
e toma-a nos teus braços
com um embalo suave
eleva-a para onde voem as melhores aves, naveguem as mais finas nuvens
e os fios de sol teçam filigranas felizes!

verás como o seu seio se admoesta
de um respirar menino
verás como reencontraste o leito
e o corpo que esperavas
e só então poderás sonhar como
se sonha quando não se sonha sozinho...


(gostei muito do teu poema)

Boa noite para ti, Zénite...

1:55 da manhã, agosto 20, 2007  
Blogger Zénite said...

Tâmara amiga,

Belíssimo é o teu poema!
Muito obrigado pela visita, pelo poema e pelas restantes palavras.

Ainda vim a tempo de te responder, pois parto amanhã para o paralelo 38-1, como costumo dizer.

Um abraço e uma noite tranquila para ti.

2:02 da manhã, agosto 20, 2007  
Blogger un dress said...

...como não como não como não!!?


acredito nessa cal do sul nessa luz nesse agosto...


eu vou voltando ainda cega...



bom tempo. beijO

3:10 da tarde, agosto 20, 2007  
Blogger Menina Marota said...

"Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas"

(Eugénio de Andrade)

Um abraço e boa semana ;)

12:53 da manhã, agosto 21, 2007  
Blogger © Maria Manuel said...

que este resto de agosto
te traga dias de sal e sol :)

10:46 da manhã, agosto 21, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

UN ABRAZO, AMIGO.

1:32 da manhã, agosto 23, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Boas férias!

Espero que o sol e o sal do sul me recebam uns dias em Setembro :)

Beijo, amigo.

3:00 da tarde, agosto 23, 2007  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

He vuelto para emborracharme de palabras.

Un beso.

12:26 da tarde, agosto 25, 2007  
Blogger Maite said...

Caro Zénite

Mais um excelente poema.
Curiosa a terminação dos adjectivos. Penso que lhe empresta movimento tanto "físico" quanto emocional.

Vou passando por cá para lê-lo com tempo :)

Boas férias no paralelo 38-1.
Abraço para si

P.S. penso que vai encontrá-la lá (no paralelo 38-1) :)

7:03 da tarde, agosto 25, 2007  
Blogger Menina Marota said...

Passei para ler-te... deixo um beijo e continuação de boas férias... ;))

4:15 da tarde, agosto 26, 2007  
Blogger Nanny said...

Que esse intermezzo nos azuis do sul te faça encontrá-la(o) :D

Cá te esperamos e aguardamos os restantes episódios... que todos pedem cheguem breve :-)))

Um beijo e boas férias, que para mim ainda faltam 3 semanas

11:54 da tarde, agosto 26, 2007  
Blogger Dinada said...

Nessa procura incessante
Encontrarás
Dentro de ti
Resposta feita Corpo
Que queres descobrir

Beijo

Di

10:21 da manhã, agosto 27, 2007  
Blogger Ana Paula Sena said...

É, de facto, um poema muito bonito, Zénite! Possui uma construção de efeitos fortemente sensíveis e muito musicais. Parabéns! :)
Tomara venha a encontrá-la...!
Continuação de boas férias, se é o caso.

11:34 da tarde, agosto 27, 2007  
Blogger un dress said...

bOm tempO...









~ beijO

9:18 da tarde, agosto 29, 2007  
Blogger teresamaremar said...

Passei de novo e parece que esta casa continua de férias :)

1:10 da manhã, agosto 31, 2007  
Blogger Zénite said...

O meu obrigado a todas as visitas.

Retribuirei logo que possa.

Com um grande abraço.

11:09 da manhã, setembro 02, 2007  

Enviar um comentário

<< Home

. .