É Natal, e no entanto…
Ah, pudesse eu ser início,
a chuva, o vento, o breve relâmpago
ou a resplandecente alvorada
de onde brotam todas as coisas!
Ser talvez um reflexo de tempo e de sol
sobre a vertigem da gota de orvalho
que cintila sobre os espelhos da madrugada.
Ser a ponte pênsil sobre o vazio
ou porventura a quietude indecisa do nada.
Ah, pudesse eu ser a palavra
ou o sinal do vento estranho
que escolta a ave que no outono emigra
num rumo de primaveras e árvores verdes
numa façanha irisada de infinitos!
Ah, pudesse eu entrar pela estrela de alva
e ouvir uma voz nítida e doce
pairando sobre a quietude do solstício
num anúncio de aconchego e de Natal!
Ah, mas não sou,
não posso ser,
nem ouço essa voz…
e assim me calo.

Não obstante...
Há algo de diferente
no círculo luminoso do Natal.
Algo radioso e belo
que, furtivo, se insinua
num despertar tranquilo e sem lamentos.
Como se as estrelas embutidas no firmamento
até nós descessem, inconscientes,
para fazer parte da nossa carne e da nossa mente.
(Como se desde sempre nos pertencessem)
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